Achei muito interessante a ação que leva a desenrolar esta história, pois o texto relaciona uma deusa com mouros do século XII e população do século XX.
Os automobilistas, nessa manhã, na Avenida Gago Coutinho em direção ao Areeiro, depararam-se com um exército de mouros que cavalgava em rumo a Lixbuna para atacar a cidade.
Os civis ficaram muito assustados, pensando que se tratava de gravações para um anúncio ou um filme, enquanto a mourama pensava que estava no inferno, com aqueles edifícios, viaturas… O lugar-tenente de Ibn-el-Muftar (o chefe das tropas), Ali-ben-Yussuf começou logo a orar.
Esta situação é muito importante, pois consegue-se distinguir facilmente a diferença entre a mente, do séc. XII e XX. Os mouros não sabiam explicar, e eram muito ligados à religião, (como alguns locais do mundo na atualidade), então a razão mais óbvia seria, que aquilo era um castigo de Alá. Estariam no inferno ou enfeitiçados.
A parte em que se fala da maneira como os mouros viam o cenário, mais precisamente a Avenida Gago Coutinho, é muito descritiva, e acho que da forma que é enumerada é muito precisa e leva o leitor a perceber ainda mais a razão por que as tropas pensavam que era o inferno.
Os mouros ficaram irrequietos devido ao cenário, mas não pensaram em atacar pois os civis não pareciam armados.
Manuel Reis Tobias, agente de segunda classe da PSP, que naquela manhã vigiava o trafego, tratou logo de mandar uma mensagem pelo intercomunicador da sua mota para o posto, avisando do que estava a ocorrer. Com uma chamada para o ministro e surgiu a confirmação de que aquela confusão seria uma manifestação não autorizada.
Poucos minutos depois encontrava-se a polícia de intervenção no parque de estacionamento do Areeiro.
Nesta altura, já os condutores tinham evacuado os seus carros. Até que um condutor de um camião que transportava cerveja, Manuel da Silva Lopes, que muitas vezes se encontrava em problemas nas estradas, decide mandar um calhau miúdo, e que por acaso acerta em Mamud Beshewer.
Imediatamente, Ibn-Muftar dá ordem de fogo para vinte archeiros. Todos os civis de abrigaram.
O comissário Nunes, à frente dos pelotões da polícia de choque, começa a “varrer” todos os civis, uns para o Bairro dos Atores e outros para a Praça do Areeiro.
Ibn-Muftar ao vendo os pelotões decide atacar, mas estes fogem para trás do balcão da Cervejaria Munique.
A tropa do Ralis e a Escola de Prática de Administração Militar, que iam em direção ao local da confusão, ficaram presas no trânsito de camiões TIR.
O capitão Aurélio Soares deixou as viaturas na Avenida Estado Unidos, e foi dar de caras com as tropas mouras, acenando um lenço branco, que fez com que Muftar não dê-se ordem para atacar.
Conseguiram cumprimentar-se, o capitão e o chefe mouro:
“-Salam aleikum.”
“-Aleikum Salam”
Achei muito engraçado este desenrolar da história, pois as personagens utilizadas foram criadas com um nome completo (Manuel Reis Tobias, Manuel da Silva Lopes, Arélio Soares, comissário Nunes, Mamud Beshewer…), aparecimento do nome das ruas, praças, cervejarias… ao longo do decorrer da ação.
Tem o seu lado cómico, porque todos os esforços feitos pelos Homens do século mais recente foram completamente furados, nenhum plano atingiu o seu objetivo, apesar das tecnologias, instruções, treino… E também a situação em que os mouros decidiram atacar os policiais de intervenção, e terem fugido para trás do balcão da Cervejaria, é cómica.
Dá-nos a entender que os mouros ao ver o comissário Nunes a acenar um trapo branco, apesar de não existir na sua altura aquele gesto, subentenderam que não era sinal de ataque.
A deusa acorda, e, ao ver aquele terrível nó, desembaraçou-o. Tudo voltou ao normal. Mas ninguém se tinha esquecido do que ali acontecera naquela manhã. Clio não podia fazer com que aquelas partes da história voltassem à estaca zero, mas existia uma maneira de fazer esquecer aquela confusão. Borrifou todas as pessoas presentes com água do rio Letes.
No momento de mais tensão é quando a confusão, o confronto de séculos, termina.
Apesar de ninguém se lembrar do que se passara, o caus continuava instalado, os pelotões da polícia, aquele trânsito… Nenhum Homem conseguia explicar o que se tinha passado.
Menos prejudicial, foi para Ibn-el-Muftar que desistiu de conquistar Lixbuna e partir noutra direção.
A deusa da História foi privada de ambrósia durante quatrocentos anos.
Este texto narra uma história muito descritiva, e com pouco mas existente diálogo. O vocabulário é rico, e variado. Pois algum é referente ao século XII (Lixbuna, Salam aleikum…) e outro ao século XX (automobilistas…).
Na minha opinião, é uma história irrealista, mas com elementos realistas (nome de ruas, pessoas…). O narrador não está presente.
No título, “A inaudita guerra na Avenida Gago Coutinho”, o adjetivo “inaudita” significa que nunca foi ouvida, que não se soube que aconteceu. No título esta palavra tem como função criar uma mensagem de que esta “guerra” realmente aconteceu, mas que ninguém soube da sua ocorrência.