quarta-feira, 20 de março de 2019

"Alunos preferem as aulas com professores-robot" - Apontamento

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Ontem, vi publicada, no Facebook,  a foto que acompanha, aqui do lado esquerdo, estas palavras. 

O título, "Alunos preferem as aulas com professores-robot", uma tradução muito à letra de "Pupils prefer lessons with robot teachers",  é provocador. Pelo menos na minha leitura. Li-lhe essa intencionalidade e, por isso, fiquei interessada e acabei por ler o texto.

No artigo, lê-se, logo no primeiro parágrafo, que os alunos preferem as aulas dadas por robôs em vez de professores "reais" pelo facto dos primeiros serem menos críticos e frustrados que os segundos. Outra vantagem seria ainda o facto de os alunos poderem fazer a mesma pergunta ao robô sem que este se mostrasse aborrecido. É ainda considerado vantajoso pelos alunos o facto de um professor-robot não saber se no dia anterior eles, os alunos, se tinham portado mal ou até se teriam algum problema ou doença. 

Claro que este post suscitou comentários. Quando vi a caixa de comentários. Antes do meu, já havia cinco comentários. Todos eles contra essa ideia de que um robô pudesse substituir o professor real.

Mas eu não penso assim. E resolvi, também, comentar. O que escrevi foi o seguinte:




"Bem... Nesta última semana, tenho repetido a seguinte frase aos alunos: "Olhem para mim como uma daquelas máquinas de café em que pomos a moeda e o café cai." E sabem o que acontece? Em vez de me pedirem de forma vaga e apenas "a folha dos exercícios" que podem ser para uns do verbo, para outros da pontuação, nomes, adjetivos, guião da entrevista, etc, começam a pedir, precisamente, aquilo que querem, ou seja, os exercícios da flexão do verbo, o guião do relatório, etc. E os documentos são distribuídos. Pois é. E sabem, funcionando com eles e entre eles quase como uma máquina que os orienta na operacionalização de cada um dos percursos que cada um vai também desenvolvendo, portanto, quase como se fosse uma máquina, nunca me senti tão humana ali, na sala de aulas e tão perto deles. Por isso, eu percebo essa preferência e não podia estar mais de acordo."

Talvez devêssemos pensar melhor e mais neste assunto. Afinal, trabalhamos para e com eles. Isto se  é mesmo verdade que preferem aprender assim, sem afetos. Mas estes também são precisos. No entanto, e se calhar ou não, no momento em que entregamos, em inglês é muito melhor o verbo - delivery -, o processo de aprendizagem ao aluno, esse momento deveria estar livre de qualquer emoção. Sim, porque isso pode condicionar a construção do conhecimento que o aluno tem o direito a fazer livre de qualquer intencionalidade individual nossa. Não os devemos influenciar, nem servir de muleta. Pelo menos é isso que dizemos, que os queremos responsáveis e autónomos. E o pensamento crítico? Queremos que eles pensem ou que pensem como nós?

Mas e os afetos? Não serão também tão importantes? Há quem diga que sim. Pode um aluno gostar daquele professor que funciona como se de um robô se tratasse quando o orienta para aprender?

Claro que pode. Ao professor também compete ser humano. O professor é uma pessoa. E como se faz isso?

Também tenho umas ideias a partilhar sobre o assunto. Hoje, fica mesmo só este apontamento para não me alongar e preciso de começar a estabelecer temáticas distintas.

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